quinta-feira, 2 de julho de 2020
Segue o teu destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Odes de Ricardo Reis-Fernando Pessoa
-1946
quarta-feira, 1 de abril de 2020
Esconjurando o Covid-19
EM QUARENTENA
Oh vírus malquisto
és uma maldição e
pareces o anticristo.
Podes vir do acaso, chegar aqui ou não,
ser russo, cowboy ou chinês
e podes mesmo estar aí à porta
para nos derrubar de vez.
Espalhas o terror mesmo de quarentena
e com o manto da morte,
matas quem tem menos sorte
e quem nos deixa mais pena
Violaste fronteiras qual assombração
para meter medo a esta nobre Nação,
que já esteve em todo o Mundo.
Vade retro, oh vírus maldito, a nossa resiliência
vai vencer-te como o fizemos ao mar profundo.
(31/03/2020)
ser russo, cowboy ou chinês
e podes mesmo estar aí à porta
para nos derrubar de vez.
Espalhas o terror mesmo de quarentena
e com o manto da morte,
matas quem tem menos sorte
e quem nos deixa mais pena
Violaste fronteiras qual assombração
para meter medo a esta nobre Nação,
que já esteve em todo o Mundo.
Vade retro, oh vírus maldito, a nossa resiliência
vai vencer-te como o fizemos ao mar profundo.
(31/03/2020)
domingo, 1 de setembro de 2019
O sentido da Vida
A vida para todos não é por inteiro
Entre ricos e pobres foi sempre diferente.
Os pobres acreditam num Deus ausente
o deus dos ricos é quase sempre o dinheiro.
A vida para outros é uma jornada,
com aventuras difíceis de vencer,
correndo o perigo de tudo perder,
sem alento e com a vida destroçada.
Só com coragem lutam pela existência.
Do pouco que tiverem, nada irão levar.
Melhor é ter uma vida de coerência.
E se nada tens e ao "pó hás-de voltar,"
mas queres
conseguir a eternidade:
domingo, 3 de junho de 2018
Ode à terra e à vida
TAVAREDE
Ode à terra e à vida
Nasci e fui menino
de minha Mãe.
Brinquei com meninos também.
Na terra onde cresci
o sino eu sempre ouvi.
Ele dizia das obrigações e novenas
e nas jornas dobravam as pernas.
Vi a submissão do povo cavador
que o seu suor limpava
do rosto cansado para rezar.
O povo também cantava
e com ele cantei
nas festas que hoje lembrei.
Mas se agora já não canto como sei,
o que disto sobrevive
é o amor à terra e à vida
que sempre tive.
Ode à terra e à vida
Nasci e fui menino
de minha Mãe.
Brinquei com meninos também.
Na terra onde cresci
o sino eu sempre ouvi.
Ele dizia das obrigações e novenas
e nas jornas dobravam as pernas.
Vi a submissão do povo cavador
que o seu suor limpava
do rosto cansado para rezar.
O povo também cantava
e com ele cantei
nas festas que hoje lembrei.
Mas se agora já não canto como sei,
o que disto sobrevive
é o amor à terra e à vida
que sempre tive.
quinta-feira, 8 de março de 2018
Retrospectiva da vida
É no silêncio e na meditação que fazemos a análise do passado e dos
caminhos que trilhámos juntos. Que nos lembramos das alegrias e das
tristezas e dos erros que fizemos. É no silêncio que percebemos a
iniquidade da guerra e a sorte de estarmos vivos. É no silêncio e na
meditação que apreciamos as maravilhas da natureza, o milagre da vida e
avaliamos os planos que partilhámos e os objectivos que conseguimos. É
no silêncio que damos valor à família e aos amigos que nos deram a mão
em tempos difíceis. E é na meditação e nesta análise serena que
concluímos que a nossa vida valeu a pena.- in limonete.blogspot.com.
sábado, 11 de agosto de 2012
Nascemos para amar-Bocage
Nascemos para amar; a humanidade
Vai tarde ou cedo aos laços da ternura:
Tu és doce atractivo, ó formusura,
Que encanta, que seduz, que persuade.
Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão n'alma se apura
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.
Qual se abismou na lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.
Amor ou desfalece, ou pára, ou corre;
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.
Manuel Barbosa du Bocage -
Setúbal 15 Set. 1765
Vai tarde ou cedo aos laços da ternura:
Tu és doce atractivo, ó formusura,
Que encanta, que seduz, que persuade.
Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão n'alma se apura
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.
Qual se abismou na lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.
Amor ou desfalece, ou pára, ou corre;
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.
Manuel Barbosa du Bocage -
Setúbal 15 Set. 1765
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Deixa de seguir a multidão
Se nós nada
fizermos senão de acordo com os ditames da razão, também nada evitaremos senão
de acordo com os ditames da razão. Se quiseres escutar a razão, eis o que ela te
dirá: deixa de uma vez por todas tudo quanto seduz a multidão! Deixa a riqueza,
deixa os perigos e os fardos de ser rico; deixa os prazeres, do corpo e do
espírito, que só servem para amolecer as energias; deixa a ambição que não passa
de uma coisa artificialmente empolada, inútil, inconsciente, incapaz de
reconhecer limites, tão interessada em não ter superiores como em evitar até os
iguais, sempre torturada pela inveja, e uma inveja ainda por cima dupla. Vê como
de facto é infeliz quem, objecto de inveja ele próprio, tem inveja por
outros.
Não estás a
ver essas casas dos grandes senhores, as suas portas cheias de clientes que se
atropelam na entrada? Para lá entrares, teria de sujeitar-te a inúmeras
injúrias, mas mais ainda terias de suportar se entrasses. Passa frente às
escadarias dos ricos senhores, aos seus átrios suspensos como terraços: se lá
puseres os pés será como estares à beira de uma escarpa, e de uma escarpa
prestes a ruir. Dirige ante os teus passos na via da sapiência, procura os seus
domínios cheios de tranquilidade, mas também de horizontes ilimitados. Tudo
quanto entre os homens é tomado como coisa eminente, muito embora de valor
reduzido e só notável em comparação com as coisas mais rasteiras, mesmo assim só
é acessível através de difíceis e duros atalhos. A via que conduz ao cume da
dignidade é extremamente árdua; mas se te dispuseres a trepar até estas alturas
sobre as quais a fortuna não tem poder, então poderás ver a teus pés tudo quanto
a opinião vulgar considera eminentíssimo, e desse ponto em diante o teu caminho
será plano até ao supremo bem.
Séneca
domingo, 23 de outubro de 2011
Porque escrevi isto?
Às vezes tenho ideias felizes
Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
(Álvaro de Campos, in "Poemas" )
Heterónimo de Fernando Pessoa
Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
(Álvaro de Campos, in "Poemas" )
Heterónimo de Fernando Pessoa
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Pedras no caminho?
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Não existo
Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim.
Álvaro de Campos (heterónimo de F. Pessoa)
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim.
Álvaro de Campos (heterónimo de F. Pessoa)
domingo, 17 de julho de 2011
Incertezas
Queria fazer-te um poema
Mas quedei-me nas incertezas.
Queria sorrir
Mas os lábios impugnaram a intenção.
Queria cantar-te em voz alta
Mas sobrepôs-se a envolvência do silêncio!
Quis abraçar-te
Mas fiquei imóvel
Com receio de que te risses.
Resta-me sonhar
Que o meu peito se envolveu
Na carícia dos teus seios.
Autor: Aníbal José de Matos
Mas quedei-me nas incertezas.
Queria sorrir
Mas os lábios impugnaram a intenção.
Queria cantar-te em voz alta
Mas sobrepôs-se a envolvência do silêncio!
Quis abraçar-te
Mas fiquei imóvel
Com receio de que te risses.
Resta-me sonhar
Que o meu peito se envolveu
Na carícia dos teus seios.
Autor: Aníbal José de Matos
domingo, 19 de junho de 2011
SE
SE consegues impor a calma
quando, ao teu lado, todos a perdem
censurando teu nobre esforço
para mantê-la
SE não te cansas de esperar,
continuas simples junto de reis
e contra a calúnia não calunias
evitando responder
com a fúria do adversário
sem te mostrares ingénuo
nem presumires de sábio
ou de ousadia em excesso
SE não te deixares escravizar
pelo sonho
nem contares demasiado
com a luz da tua inteligência
SE não te perturbas demasiado
com o triunfo ou a derrota
mas, serenamente ,com coragem,
olhas a verdade atraiçoada,
caluniada e espezinhada
os teus ideais caídos por terra
e, de novo os ergues
em mais profundos alicerces
proclamando com firmeza
essa verdade
SE perdes tudo quanto juntaste
e recomeças a trabalhar sem um ai ,
um queixume ,uma lágrima,
e, sorrindo,
fazes das tripas coração,
reúnes todas as energias dispersas
e fortificas a tua vontade
para continuares até á exaustão
SE consegues ser humilde
quando uma multidão te exalta
SE amigos ou inimigos,
não conseguem ofender-te
e dás por igual,
a todos os que procuram
o teu esforço
sem fazer distinção de pessoas
SE um minuto
vale para ti sessenta segundos
cheios de vida
apesar das contrariedades duras
que te tomem,
ainda bem que nasceste
o mundo será teu
e tu serás um HOMEM
RUDYARD KIPLING
quando, ao teu lado, todos a perdem
censurando teu nobre esforço
para mantê-la
SE não te cansas de esperar,
continuas simples junto de reis
e contra a calúnia não calunias
evitando responder
com a fúria do adversário
sem te mostrares ingénuo
nem presumires de sábio
ou de ousadia em excesso
SE não te deixares escravizar
pelo sonho
nem contares demasiado
com a luz da tua inteligência
SE não te perturbas demasiado
com o triunfo ou a derrota
mas, serenamente ,com coragem,
olhas a verdade atraiçoada,
caluniada e espezinhada
os teus ideais caídos por terra
e, de novo os ergues
em mais profundos alicerces
proclamando com firmeza
essa verdade
SE perdes tudo quanto juntaste
e recomeças a trabalhar sem um ai ,
um queixume ,uma lágrima,
e, sorrindo,
fazes das tripas coração,
reúnes todas as energias dispersas
e fortificas a tua vontade
para continuares até á exaustão
SE consegues ser humilde
quando uma multidão te exalta
SE amigos ou inimigos,
não conseguem ofender-te
e dás por igual,
a todos os que procuram
o teu esforço
sem fazer distinção de pessoas
SE um minuto
vale para ti sessenta segundos
cheios de vida
apesar das contrariedades duras
que te tomem,
ainda bem que nasceste
o mundo será teu
e tu serás um HOMEM
RUDYARD KIPLING
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Carta de Amor
Gosto de Ti meu amor
Tu és tudo para mim:
Tu não vês que é grande a dor
de sentir-te o desamor
e não deves ser assim?
Tenho saudades de Ti
do teu corpo magestoso,
dos dias em que senti
o teu seio generoso!...
Diz-me, só, que já estás farta
de mim, das minhas ideias.
Escreve ao menos uma carta
a dizer que sou tarata,
que amas outro que me odeias.
Diz-me que não me queres ver
ou conta-me os teus desejos:
se tal carta receber,
juro-te que antes de a ler
irei cobri-la de beijos...
Tu és tudo para mim:
Tu não vês que é grande a dor
de sentir-te o desamor
e não deves ser assim?
Tenho saudades de Ti
do teu corpo magestoso,
dos dias em que senti
o teu seio generoso!...
Diz-me, só, que já estás farta
de mim, das minhas ideias.
Escreve ao menos uma carta
a dizer que sou tarata,
que amas outro que me odeias.
Diz-me que não me queres ver
ou conta-me os teus desejos:
se tal carta receber,
juro-te que antes de a ler
irei cobri-la de beijos...
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Pedaços de África
SOLITÁRIO
Doze meses me separam da largada
Do porto de Lisboa, da Lusa Atenas,
Mas ainda outros tantos da chegada
Me faltam p’ra regressar sem minhas penas…
Mais doze meses terei que respirar
Este ar tão quente, soturno e pegajoso;
Esse dia no entanto há-de chegar
E por ele vivo, sofro, estou ansioso…
Entrementes eu aqui sem companheira,
Sem ter mulher dedicada à minha beira
Ou, talvez, só por simples contradição
Revolta-me este estado celibatário
E cada vez mais me sinto SOLITÁRIO
Nestas paragens, ignotas, do sertão…
(Escrito em Angola em 17/07/1965)
Doze meses me separam da largada
Do porto de Lisboa, da Lusa Atenas,
Mas ainda outros tantos da chegada
Me faltam p’ra regressar sem minhas penas…
Mais doze meses terei que respirar
Este ar tão quente, soturno e pegajoso;
Esse dia no entanto há-de chegar
E por ele vivo, sofro, estou ansioso…
Entrementes eu aqui sem companheira,
Sem ter mulher dedicada à minha beira
Ou, talvez, só por simples contradição
Revolta-me este estado celibatário
E cada vez mais me sinto SOLITÁRIO
Nestas paragens, ignotas, do sertão…
(Escrito em Angola em 17/07/1965)
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Cartas de Amor
Todas as cartas de amor săo
Ridículas.
Năo seriam cartas de amor se năo fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Tęm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que săo
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que săo
Ridíículas
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
Săo naturalmente
Ridículas).
Álvaro de Campos (1935)
Ridículas.
Năo seriam cartas de amor se năo fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Tęm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que săo
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que săo
Ridíículas
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
Săo naturalmente
Ridículas).
Álvaro de Campos (1935)
sábado, 30 de abril de 2011
Poema em linha recta
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
(Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
(Fernando Pessoa)
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Aniversário de Almeida Garrett

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu em 1799 no Porto e faleceu em Lisboa em 1854 .
É provavelmente o escritor português mais completo de todo o século XIX, porquanto nos deixou obras-primas na poesia, no teatro e na prosa, inovando a escrita e a composição em cada um destes géneros literários
DESTINO
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Floresce»;
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Almeida Garrett
É provavelmente o escritor português mais completo de todo o século XIX, porquanto nos deixou obras-primas na poesia, no teatro e na prosa, inovando a escrita e a composição em cada um destes géneros literários
DESTINO
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Floresce»;
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Almeida Garrett
Pós-texto: último poema de A.Garrett
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Os grandes filósofos clássicos
O pensamento dos grandes filósofos clássicos
O Século XXI pode compreender-se melhor através do pensamento dos grandes filósofos clássicos. Vejamos:
“Hoje em dia, a maior parte das pessoas, prefere a vida do consumismo e procura o prazer ou a riqueza ou a fama”. Quem escreveu isto? Foi Aristóteles há 2.500 anos.
Ou o que me diz a isto?
Os governantes que estão no poder porque juntaram uma fortuna tão considerável, não querem proibir por lei a extravagância dos jovens (pessoas) e impedi-los de malbaratarem o seu dinheiro e de se arruinarem. A sua intenção é fazerem empréstimos a essas pessoas imprudentes ou, comprando-lhes os seus bens, esperarem aumentar a sua própria riqueza ou influência… Aqueles que ganham muito dinheiro continuam a injectar o ferrão tóxico dos seus empréstimos, sempre que podem.
Foi Platão e, parece surpreendentemente familiar. Neste mundo há revoluções e a história pode colocar grandes distâncias a separar povos e lugares. Mas há bastantes coisas que permanecem constantes, sobretudo no reino das grandes verdades da vida e, podemos percebê-las bem.”
(Do livro: PLATÃO de Mark Vernon, cuja leitura aconselho)-O itálico é meu.
O Século XXI pode compreender-se melhor através do pensamento dos grandes filósofos clássicos. Vejamos:
“Hoje em dia, a maior parte das pessoas, prefere a vida do consumismo e procura o prazer ou a riqueza ou a fama”. Quem escreveu isto? Foi Aristóteles há 2.500 anos.
Ou o que me diz a isto?
Os governantes que estão no poder porque juntaram uma fortuna tão considerável, não querem proibir por lei a extravagância dos jovens (pessoas) e impedi-los de malbaratarem o seu dinheiro e de se arruinarem. A sua intenção é fazerem empréstimos a essas pessoas imprudentes ou, comprando-lhes os seus bens, esperarem aumentar a sua própria riqueza ou influência… Aqueles que ganham muito dinheiro continuam a injectar o ferrão tóxico dos seus empréstimos, sempre que podem.
Foi Platão e, parece surpreendentemente familiar. Neste mundo há revoluções e a história pode colocar grandes distâncias a separar povos e lugares. Mas há bastantes coisas que permanecem constantes, sobretudo no reino das grandes verdades da vida e, podemos percebê-las bem.”
(Do livro: PLATÃO de Mark Vernon, cuja leitura aconselho)-O itálico é meu.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
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