segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pensamentos

(André Breton)

Pensar não é crime; crime é não querer que os outros pensem...(anónimo).

"Não é o mêdo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio-pau a bandeira da imaginação"- André Breton.

sábado, 27 de novembro de 2010

A sinceridade do poeta

O poeta superior diz o que efectivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir. Nada disto tem que ver com a sinceridade. Em primeiro lugar, ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões. A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não sente é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é que importa no poeta. Tanto assim é que não creio que haja, em toda a já longa história da Poesia, mais que uns quatro ou cinco poetas, que dissessem o que verdadeiramente, e não só efectivamente, sentiam. Há alguns, muito grandes, que nunca o disseram, que foram sempre incapazes de o dizer. Quando muito há, em certos poetas, momentos em que dizem o que sentem. - Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Às vezes falando; outras vezes, pensando...




"Não sou político; sou principalmente um individualista. Creio na liberdade; nisso se resume a minha política...Sou pelos homens; essa é a minha natureza."

(Charlie Chaplin)

(In blogue Limonete)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O indivíduo e a Sociedade

Qual a base da sociedade, o indivíduo ou a família?

Sempre aprendemos que o meio é quem molda e até define o destino dos indivíduos, que o homem é produto do meio, ou como diz Almeida Garrett... o homem é ele e suas circunstanciais..., a maneira como Krishnamurti , enxerga o individuo e a sociedade, nos coloca em uma posição de contraposição a esta visão ocidental , que parece norteada pela filosofia hegeliana , que fora do estado o individuo não existe...então veremos como este pensador indiano define a sociedade e o individuo.

A vida em sociedade sempre é originária de problemas, onde os indivíduos têm que ter a capacidade de administrar os conflitos próprios e os sociais, bem como saber lhe dar com as frustrações e sonhos. A grande questão é que o problema, dentro de uma sociedade sempre se renova, como os problemas são originados nos seres sociais e como todo ser social e transitório e mutável e lógico que os problemas dentro de uma sociedade também sejam móveis e se renovem a cada momento em um constante vim a Ser heracletiano, as crises , mesmo sendo colocadas de forma repetitivas , da ao individuo a ideia que é sempre a mesma , que é uma repetição..uma reinvenção incessante da roda...mas toda crise é nova e tem sua própria dinâmica..e só uma mente aberta e fresca e capaz de perceber o dinamismo das crises sociais.

O que podemos mencionar a partir desta colocação é que a sociedade é fruto das intenções internas são individuais de cada ser social, que os conflitos e lutas de cada Ser, e desencadeado e se desenrola no campo de batalha que se chama sociedade, a sociedade é fruto destes conflitos individuais, sem os conflitos e sonhos dos indivíduos qualquer sociedade está fadada ao esquecimento ao fracasso. Todos os grandes impérios quando alcançaram o Máximo que buscavam , quando as necessidades de seus SERES SOCIAIS, já estavam, plenamente satisfeita , onde os indivíduos não precisavam mais se preocuparem com sua sobrevivência , a sociedade se tornou estática e sem dinamismo social..levando estes grupos ao total esquecimento e destruição...podemos dizer que temos aqui um argumento plausível sobre a ascensão, apogeu e queda dos grandes grupos sociais. O que nos leva a outro ponto de vista, a sociedade não cria o individuo ou molda este, na verdade o comportamento do individuo é que molda uma sociedade, uma sociedade e fruto de comportamentos individuais, de sonhos decepções de seus indivíduos, por exemplo, a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, levou toda uma nação a se comportar mediante seu comportamento individual, um único homem, com seus sonhos, loucura e frustrações moldaram uma realidade social que encaixasse em seu sonho de poder, de sociedade, e até de individuo, mas não só Hitler, a história está cheia de exemplos, Jesus, Maomé, Napoleão Bonaparte, Sócrates e Alexandre o grande, são exemplos de que o comportamento do individuo pode determinar o estado social de um grupo, ou até mesmo de uma nação, como afirma Krisrnamurt, - O MUNDO É O QUE VOCE É – o mundo seria fruto de nossos próprios pensamentos, um individuo que seu interior e uma local de conflito, sofrimento e desesperança, não existe nenhum lugar na terra que fará ele enxergar um paraíso, ele reproduz no mundo exterior nada mais nada menos que seu mundo interior, antes de sermos afectado pela sociedade somos afectados por nós mesmos.

Sabemos sobre tudo que o homem vive em uma preocupação perpétua, dando razão ao pensador alemão, que pregava A VIDA E DOR E TÉDIO- onde estamos apenas sobrevivendo neste inferno dantesco e não e difícil notar estas verdades , estamos sempre preocupados com nossas dividas , buscando adquirir mais conforto, mais amor, mais beleza, estamos sempre preocupados com nossas dividas, nosso trabalho, o que nos lança a um PRESENTE PERPÉTUO, não estamos vivendo no presente, mas estamos sempre vivendo ou no passado, ou no futuro, a sociedade de consumo que vivemos nos levou a esta loucura a este presente perpétuo, estamos sempre buscando algo que nunca iremos atingir principalmente nos que vivemos na era do avanço tecnológico, nunca teremos uma paz... Pois invertemos a lógica que por séculos moveu a humanidade, - APARECENDO A NESCESSIDADE SE CRIA O PRODUTO-, nos dias de hoje e o contrario – CRIE O PRODUTO E DEPOIS ESTIMULE O DESEJO, A NESCESSIDADE NÃO É IMPORTANTE- se olharmos em nossas casas veremos que 80% do que acumulamos foi fruto de nossa insatisfação temporária com nós mesmos.

Podemos nos perguntar e as sociedades socialistas que pregavam que todos os indivíduos devem ter seus desejos igualmente atendidos, por que não deram certo? Por um motivo simples, os socialistas poderiam entender muito bem de economia e política, mas não entediam nada de psicologia humana, pois desde que o mundo e mundo sabemos que o que move um grupo social e o que grande parte das religiões tentam apagar no ser humano, ou seja, o nosso traço de inveja,... Qualquer um que tiver um pouco de atenção com o comportamento humano vera que o que move a sociedade e a inveja, em qualquer grupo social a inveja e o motor de evolução, em uma igreja, no trabalho, no amor, no desporto, o que todos estão querendo? Chegar aonde o outro chegou, tomar o que o outro conquistou possuir um objecto melhor que o de seu oponente, obter uma perfeição estética melhor que o outro. Mas isto é importante em qualquer sociedade, sem a inveja o indivíduo se torna estático e sem vida, consequentemente a sociedade se torna apática e esta fadada ao fracasso, estimular a inveja nos indivíduos em um grau saudável é importante e fundamental para qualquer grupo social, pois sem a inveja os indivíduos deixam de ser criativos , deixam de buscar a suas próprias superações se dão por satisfeito com sua situação actual, a inveja é que leva o individuo a superar suas limitações, e que faz nascer sistemas políticos e ideológicos, religiosos e económicos. O que acontece quando deixamos de ser criativos? A sociedade passa a ser formada por indivíduos copistas, passamos a copiar outros indivíduos que já copiaram de outros tantos, desta forma a originalidade morre a criatividade desaparece, pois ao copiar não somos nada nem ninguém este e um fenómeno que denominasse MIMETISMO, uma sociedade mimética em breve deixará de ser uma sociedade para ser apenas um aglomerado de pessoas... Mas vale ressaltar que uma pequena dose de imitação e importante quando se trata de pequenos grupos sociais, por exemplo, à família, formamos nosso carácter nossos valores imitando os membros de nossa família, um grupo religioso só tem coerção devido o fenómeno mimético, o que prova que o mimetismo só é fatalístico para a grande sociedade, mas é fundamental aos pequenos grupos sociais.

A grande característica das sociedades miméticas e a velocidade que as crises surgem, o homem moderno cria o problema e depois se pergunta o que fazer com ele, por exemplo, criamos o automóvel, nos tornamos homens sapiens motorizados, e não paramos para pensar que ao ver um individuo andar de carro o outro também quis, e o próximo também se achou no direito de ter um automóvel, e o mimetismo foi sendo reproduzido socialmente, agora estamos diante dos problemas ambientais provocado em parte pela queima dos combustíveis fosseis, e não sabemos como resolver esta crise. O problema e que nossas acções diante de uma crise e determinada pela nossa ideologia, pelas nossas crenças, um homem que foi criado dentro dos valores materialistas economicista, não estará preocupado com a questão ambiental, ai está a prova de que o individuo age sobre a sociedade, que o eu do individuo em certas questões e mais forte que o eu da sociedade, milhares de seres humanos são reféns do desejo e dos conflitos e desejos de um pequeno grupo de homens animais. Esta realidade nos leva a uma questão fundamental, -POR QUE EXISTE DINSTIÇÃO DE HOMEM – HOMEM? Por que sou alemão, e ele italiano? Por que sou europeu e ele africano? Por que nos fomos os únicos animais que criámos distinções entre nós mesmo? Esta divisão e que tem levado o homem a guerras e mortes, pois se sou europeu ou norte americano tenho o direito divino de poluir de conquistar de fazer matanças legalizadas, mas se sou sul americano ou africano tem o direito divino de aceitar os desígnios dos escolhidos de Deus. A sociedade está cega , estes valores ideológicos são errados , são inexistentes, pois um individuo maduro e de mente aberta percebera que antes de todos estes títulos devemos respeitar o titulo de SER HUMANO, americano, brasileiro , católico, muçulmano, judeu ou árabe, são apenas títulos ideológicos que tem levado o homem a guerras e mortes , precisamos repensar esta divisão de homem – homem, como dizia o poeta, - ou aprendemos a viver todos como irmão ou morreremos todos juntos como animais - a divisão leva a conflitos.

As questões levantadas no texto nos levam a perguntar será que o individuo e mesmo determinante na sociedade? Sim podemos dizer que sim, o grande problema e que os indivíduos vivem no campo do IDEAL e esquecem de viver no campo do REAL, nossa realidade só pode ser alterada quando tomamos consciência de nossa vida verdadeira, quando criamos um dialogo com nos mesmo, quando temos o que Sócrates chamou de auto-cuidado, quando nos tornamos responsáveis por nos mesmo quando assumimos o destino de nossas vidas em nossa própria mão, quando somos capazes de pensar por nos mesmo, e não pensar a partir do pensamento de outro individuo, lideres são importante em uma sociedade, mas ó líder mais importante somos nós mesmos, só quando obtemos vitórias sobre nós mesmos é que somos grandes e que somos heróis. O início e o fim está em nós mesmos; buscar coisas e sentimentos fora , nos leva à ilusão, à solidão e ao sofrimento.

BIBLIOGRAFIA

Palestra de Krishnamurti realizada em Ojai, Califórnia, EUA, 1944)

(Professor Euzébio Costa)

Nota: um tema interessante, que ainda hoje continua em aberto e que tem outras abordagens- ver aqui.
Pessoalmente entendo que o homem é um produto do meio e que a família é determinante na formação do seu caracter. Se a sociedade no seu todo, age de acordo com a inter-ligação das componentes, individuo familia, na defesa dos seus interesses, eis a grande questão, porque existe o poder, sob as mais subtis formas e este, sim, é que pode fazer a grande diferença.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O Começo

Platão disse algo assim: "Nada daquilo que acontece no mundo é mau para o Homem Bom". Pode a injustiça agredir-nos, mas não nos violará... pode a frivolidade cuspir-nos no rosto, mas não nos afogará... pode a maldade assustar-nos, mas não nos envenenará... Só a nossa cobardia, a nossa inércia pode levar-nos ao desalento, à inépcia, à frieza e à inquietação de espírito!... Porque, toda a insensatez da sociedade jamais será capaz de impedir que todas as Coisas grandes e importantes do mundo continuem a crescer de noite, em silêncio, humildemente, sem que ninguém dê por elas... sem se deixar cair na tentação de ter inveja, também elas, dos barulhentos... É que é preciso muita coragem, muita força de vontade, pois se a bondade e o bem combinam com o silêncio, a estupidez anda sempre rodeada de brilho e de barulho!

A grande peste do mundo contemporâneo - os jornais e as revistas contribuem decisivamente para isso - está no facto, já assinalado por KierKegaard, de os altifalantes serem concedidos, na maioria das vezes, aos néscios. Mas se Alguém "só" amar, "só" pensar, estudar e reflectir, "só" trabalhar, "só" se esforçar por ser sempre honesto e leal, "só" construir algo contribuindo de alguma forma para um mundo melhor,... não será suficientemente importante para aparecer sempre ou muitas vezes nas primeiras páginas dos jornais e/ou revistas.

Sim, estamos num mundo super-informado, que informa de tudo menos, muitas vezes, do fundamental! O que poderá pensar um pobre ser humano que, ao abrir os jornais, só encontra polémicas e violências e que, à noite, ao ligar o televisor, volta a receber uma segunda dose de tiroteios, ambições, futilidades... Enfim! Estamos condenados a ver perpetuamente a realidade através de um espelho deformante.

Na vida de todos os dias, muitos indícios fazem-nos, então, acreditar que estamos em posição de criticar... e porque não? Este é o nosso desafio... não criticar só por criticar... Desejamos sim, especialmente, que este seja um Espaço aberto a críticas construtivas, onde possamos todos abanar a sensibilidade e a sensatez da Raça Humana, partilhar, transmitir mensagens, alertas, abordar temas nacionais, internacionais, notícias, curiosidades, etc... verdadeiramente relevantes, dignas de nota!!
Julgamos ser esta apreciação o que explica o Mundo... dá-lhe sentido... e guia a acção!

(In blogue http://racaambigua.blogspot.com/)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O sentimento em Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, de seu nome completo, Fernando António Nogueira Pessoa, considerado um dos maiores poetas da Lingua Portuguesa e da literatura universal, continua a surpreender-me. Fui encontrar esta sua poesia no blogue Fotopoemas, - Rio de Janeiro - cuja autora é também uma poetisa de fino recorte que merece ser lida:

Tenho Tanto Sentimento

"Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa

(In Fotopoemas)

sábado, 10 de julho de 2010

Fernando Pessoa


NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...


É a Hora!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

No caminho da sabedoria


Se quer ser amado, ame.
Séneca

Vou ensinar-te agora o modo de entenderes que não és ainda um sábio. O sábio autêntico vive em plena alegria, contente, tranquilo, imperturbável; vive em pé de igualdade com os deuses. Analisa-te então a ti próprio: se nunca te sentes triste, se nenhuma esperança te aflige o ânimo na expectativa do futuro, se dia e noite a tua alma se mantém igual a si mesma, isto é, plena de elevação e contente de si própria, então conseguiste atingir o máximo bem possível ao homem! Mas se, em toda a parte e sob todas as formas, não buscas senão o prazer, fica sabendo que tão longe estás da sabedoria como da alegria verdadeira. Pretendes obter a alegria, mas falharás o alvo se pensas vir a alcançá-la por meio das riquezas ou das honras, pois isso será o mesmo que tentar encontrar a alegria no meio da angústia; riquezas e honras, que buscas como se fossem fontes de satisfação e prazer, são apenas motivos para futuras dores. Toda a gente, repito, tende para um objectivo: a alegria, mas ignora o meio de conseguir uma alegria duradoura e profunda. Uns procuram-na nos banquetes, na libertinagem; outros, na satisfação das ambições, na multidão assídua dos clientes; outros, na posse de uma amante; outros, enfim, na inútil vanglória dos estudos liberais e de um culto improfícuo das letras. Toda esta gente se deixa iludir pelo que não passa de falaccioso e breve contentamento, tal como a embriaguez, que paga pela louca satisfação de um momento o tédio de horas infindáveis, tal como os aplausos de uma multidão entusiasmada – aplausos que se ganham e se pagam à custa de enormes angústias! Pensa bem, portanto, no que te digo: o resultado da sabedoria é a obtenção de uma alegria inalterável. A alma do sábio é semelhante à do mundo supralunar: uma perpétua serenidade. Aqui tens mais um motivo para desejares a sabedoria: alcançar um estado a que nunca falta a alegria. Uma alegria assim só pode provir da consciência das próprias virtudes: apenas o homem forte, o homem justo, o homem moderado pode ter alegria.

Séneca

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Camões


AH, FORTUNA CRUEL! AH, DUROS FADOS

Luiz Vaz de Camões




Ah, Fortuna cruel! Ah, duros Fados!

Quão asinha em meu dano vos mudastes!

Passou o tempo que me descansastes;

Agora descansais com meus cuidados.



Deixastes-me sentir os bens passados,

Para mor dor da dor que me ordenastes;

Então núa hora juntos mos levastes,

Deixando em seu lugar males dobrados.



Ah! quanto milhor fora não vos ver,

Gostos, que assi passais tão de corrida

Que fico duvidoso se vos vi.



Sem vós já me não fica que perder,

Senão se for esta cansada vida

Que, por mor perda minha, não perdi.



sexta-feira, 28 de maio de 2010

Liberdade sem condicionalismos

Não há verdadeira liberdade pessoal com condicionalismos económicos, nem com subserviências partidárias; nem com o estigma do medo ou com a luta pela sobrevivência num mundo hostil que amordaça a consciência de quase todos e de cada um de nós.
Por isso:

"Feliz é aqule que nasceu e foi ensinado
A não servir a vontade de outrém;
Cuja armadura é o seu honesto pensamento
E a simples verdade é o seu máximo saber!
Cujas paixões nunca podem dominá-lo.
Cuja alma está sempre apta para a morte.
Indiferente ao mundo, não preocupado
Com a fama popular ou intriga torpe.

Feliz é aquele que não inveja a sorte alheia;
Que não tem vícios; que nunca sente
Quão profundas feridas o louvor provoca;
Quem não sente o peso da lei, mas só as regras do bem:

Este homem está liberto de laços servis,
Do cuidado de se elevar e do medo de cair.
Senhor de si mesmo; não de propriedades;
É o que nada tem, mas que tem tudo."


(in psicologia do caracter)

sábado, 8 de maio de 2010

"Escuta, Zé Ninguém"

Chamam-te “Zé-ninguém!”, Homem Comum e, ao que dizem, começou a tua era, a “Era do Homem Comum”. Mas não és tu que o dizes, Zé-ninguém, são eles, os vice-presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filósofos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado…

Deixas que os homens no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos homens que detêm o poder, quando não conferes a importantes mal intencionados, mais poder ainda para te representarem. E só demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais.

Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, directo em vez de cauteloso, amando às claras e não como um ladrão na noite…
Dizes: quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu? E tens razão: quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? Deixa-me dizer-to.

Diferes dos grandes homens que verdadeiramente o são apenas num ponto: todo o grande homem foi outrora um Zé-ninguém que desenvolveu apenas uma outra qualidade: a de reconhecer as áreas em que havia limitações e estreiteza no seu modo de pensar e agir. Através de qualquer tarefa que o apaixonasse, aprendeu a sentir cada vez melhor aquilo em que a sua pequenez e mediocridade ameaçavam a sua felicidade.

O grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e de grandeza alheias...
(Wilhelm Reich)


NB.: O itálico é nosso

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"Pretérito"



Equação
O nosso amor foi uma equação
a duas incógnitas: Tu e Eu.
Eu amei-te, vivi na ilusão
e o teu amor por mim, esmaeceu.


E o cupido que nos atraiçoou,
ao brincar com os nossos corações,
a flecha do amor o alvo errou,
pondo termo às nosas ilusões...


Mas, o culpado do que aconteceu,
não foi o cupido, nem Tu nem Eu.
E porque esse amor pertence ao passado,

caiu no chão, ficou esmaecido,
pergunto a mim mesmo, entristecido,
se não foi disso, o cálculo, o culpado
!...
(02/09/65)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

"Estejamos vivos então!"...


"Morre lentamente quem não viaja,
> Quem não lê,
> Quem não ouve música,
> Quem destrói o seu amor-próprio,
> Quem não se deixa ajudar.
>
> Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
> Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
> Quem não muda as marcas no supermercado,
> não arrisca vestir uma cor nova,
> não conversa com quem não conhece.
>
> Morre lentamente quem evita uma paixão,
> Quem prefere O "preto no branco"
> E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
> Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
> Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
>
> Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
> Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
> Quem não se permite,
> Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
>
> Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva
> incessante,
> Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
> não perguntando sobre um assunto que desconhece
> E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
>
> Evitemos a morte em doses suaves,
> Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
> Simples acto de respirar.
> Estejamos vivos, então!»
>
> *Pablo Neruda*

segunda-feira, 26 de abril de 2010

De que precisa o homem para viver bem?"

A ideia de lançar um novo blogue há muito tempo que me assediava porque existem alguns temas que não cabem no âmbito do blogue Limonete.
Depois de algumas hesitações este invólucro, já gasto, tal como uma lâmpada, com muitos anos de uso, teve um acréscimo de energia e ganhou nova alma.
A propósito diz-se que”Deus formou o homem do pó da terra (lâmpada) e soprou em seus narizes o fôlego da vida (espírito) e o homem foi feito alma vivente - Génesis 2:7-essa alma que é susceptível do amor, do ódio e de todos os sentimentos que podem fazer dele o principal protagonista do Bem ou do Mal ou das duas coisas simultaneamente.

Assim, o homem que Descartes argumentava ser um ser duplo (corpo e alma) é mais do que isso, porque também tem espírito. E tem ainda o condão do livre arbítrio o que faz dele o ser mais livre da natureza. Por esse motivo, nenhuma predestinação, destino, fatalismo ou maquiavelismo, poderá impedi-lo do seu direito à felicidade desde que assim o queira.

É certo que existem governos maquiavélicos que podem condicionar esse direito com medidas inverosímeis. A história no-lo diz.
Os portugueses sentem isso, logo existem, como diria António Damásio. E existem como vítimas de uma política que os tem defraudado e empobrecido cada vez mais, tirando disso benefício uns quantos que fazem orelhas moucas aos protestos crescentes dos cidadãos. E nem os discursos de circunstância, num Abril desfeiteado, conseguem encobrir o que é óbvio.
Há uma frase no livro “O Mundo de Sofia”que diz: de que é que o homem precisa para viver bem?

A resposta está lá (pág.106): "o homem só é feliz quando pode desenvolver e usar todas as suas faculdades e capacidades". Mas como pode sê-lo com governantes destes?!...

domingo, 25 de abril de 2010