segunda-feira, 28 de junho de 2010

No caminho da sabedoria


Se quer ser amado, ame.
Séneca

Vou ensinar-te agora o modo de entenderes que não és ainda um sábio. O sábio autêntico vive em plena alegria, contente, tranquilo, imperturbável; vive em pé de igualdade com os deuses. Analisa-te então a ti próprio: se nunca te sentes triste, se nenhuma esperança te aflige o ânimo na expectativa do futuro, se dia e noite a tua alma se mantém igual a si mesma, isto é, plena de elevação e contente de si própria, então conseguiste atingir o máximo bem possível ao homem! Mas se, em toda a parte e sob todas as formas, não buscas senão o prazer, fica sabendo que tão longe estás da sabedoria como da alegria verdadeira. Pretendes obter a alegria, mas falharás o alvo se pensas vir a alcançá-la por meio das riquezas ou das honras, pois isso será o mesmo que tentar encontrar a alegria no meio da angústia; riquezas e honras, que buscas como se fossem fontes de satisfação e prazer, são apenas motivos para futuras dores. Toda a gente, repito, tende para um objectivo: a alegria, mas ignora o meio de conseguir uma alegria duradoura e profunda. Uns procuram-na nos banquetes, na libertinagem; outros, na satisfação das ambições, na multidão assídua dos clientes; outros, na posse de uma amante; outros, enfim, na inútil vanglória dos estudos liberais e de um culto improfícuo das letras. Toda esta gente se deixa iludir pelo que não passa de falaccioso e breve contentamento, tal como a embriaguez, que paga pela louca satisfação de um momento o tédio de horas infindáveis, tal como os aplausos de uma multidão entusiasmada – aplausos que se ganham e se pagam à custa de enormes angústias! Pensa bem, portanto, no que te digo: o resultado da sabedoria é a obtenção de uma alegria inalterável. A alma do sábio é semelhante à do mundo supralunar: uma perpétua serenidade. Aqui tens mais um motivo para desejares a sabedoria: alcançar um estado a que nunca falta a alegria. Uma alegria assim só pode provir da consciência das próprias virtudes: apenas o homem forte, o homem justo, o homem moderado pode ter alegria.

Séneca

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Camões


AH, FORTUNA CRUEL! AH, DUROS FADOS

Luiz Vaz de Camões




Ah, Fortuna cruel! Ah, duros Fados!

Quão asinha em meu dano vos mudastes!

Passou o tempo que me descansastes;

Agora descansais com meus cuidados.



Deixastes-me sentir os bens passados,

Para mor dor da dor que me ordenastes;

Então núa hora juntos mos levastes,

Deixando em seu lugar males dobrados.



Ah! quanto milhor fora não vos ver,

Gostos, que assi passais tão de corrida

Que fico duvidoso se vos vi.



Sem vós já me não fica que perder,

Senão se for esta cansada vida

Que, por mor perda minha, não perdi.