domingo, 23 de outubro de 2011

Porque escrevi isto?

Às vezes tenho ideias felizes

Às vezes tenho idéias felizes,

Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...


Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...


Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...


(Álvaro de Campos, in "Poemas" )
Heterónimo de Fernando Pessoa

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pedras no caminho?

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Não existo

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim.

Álvaro de Campos (heterónimo de F. Pessoa)

domingo, 17 de julho de 2011

Incertezas

Queria fazer-te um poema
Mas quedei-me nas incertezas.
Queria sorrir
Mas os lábios impugnaram a intenção.
Queria cantar-te em voz alta
Mas sobrepôs-se a envolvência do silêncio!


Quis abraçar-te
Mas fiquei imóvel
Com receio de que te risses.
Resta-me sonhar
Que o meu peito se envolveu
Na carícia dos teus seios.


Autor: Aníbal José de Matos

domingo, 19 de junho de 2011

SE

SE consegues impor a calma
quando, ao teu lado, todos a perdem
censurando teu nobre esforço
para mantê-la


SE não te cansas de esperar,
continuas simples junto de reis
e contra a calúnia não calunias
evitando responder
com a fúria do adversário
sem te mostrares ingénuo
nem presumires de sábio
ou de ousadia em excesso


SE não te deixares escravizar
pelo sonho
nem contares demasiado
com a luz da tua inteligência


SE não te perturbas demasiado
com o triunfo ou a derrota
mas, serenamente ,com coragem,
olhas a verdade atraiçoada,
caluniada e espezinhada
os teus ideais caídos por terra
e, de novo os ergues
em mais profundos alicerces
proclamando com firmeza
essa verdade


SE perdes tudo quanto juntaste
e recomeças a trabalhar sem um ai ,
um queixume ,uma lágrima,
e, sorrindo,
fazes das tripas coração,
reúnes todas as energias dispersas
e fortificas a tua vontade
para continuares até á exaustão


SE consegues ser humilde
quando uma multidão te exalta
SE amigos ou inimigos,
não conseguem ofender-te
e dás por igual,
a todos os que procuram
o teu esforço
sem fazer distinção de pessoas


SE um minuto
vale para ti sessenta segundos
cheios de vida
apesar das contrariedades duras
que te tomem,
ainda bem que nasceste
o mundo será teu
e tu serás um HOMEM


RUDYARD KIPLING





quinta-feira, 16 de junho de 2011

Carta de Amor

Gosto de Ti meu amor
Tu és tudo para mim:
Tu não vês que é grande a dor
de sentir-te o desamor
e não deves ser assim?


Tenho saudades de Ti
do teu corpo magestoso,
dos dias em que senti
o teu seio generoso!...


Diz-me, só, que já estás farta
de mim, das minhas ideias.
Escreve ao menos uma carta
a dizer que sou tarata,
que amas outro que me odeias.


Diz-me que não me queres ver
ou conta-me os teus desejos:
se tal carta receber,
juro-te que antes de a ler
irei cobri-la de beijos...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Pedaços de África

SOLITÁRIO

Doze meses me separam da largada
Do porto de Lisboa, da Lusa Atenas,
Mas ainda outros tantos da chegada
Me faltam p’ra regressar sem minhas penas…


Mais doze meses terei que respirar
Este ar tão quente, soturno e pegajoso;
Esse dia no entanto há-de chegar
E por ele vivo, sofro, estou ansioso…


Entrementes eu aqui sem companheira,
Sem ter mulher dedicada à minha beira
Ou, talvez, só por simples contradição


Revolta-me este estado celibatário
E cada vez mais me sinto SOLITÁRIO
Nestas paragens, ignotas, do sertão…


(Escrito em Angola em 17/07/1965)

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Cartas de Amor

Todas as cartas de amor săo

Ridículas.

Năo seriam cartas de amor se năo fossem

Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,

Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Tęm de ser

Ridículas.

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram

Cartas de amor

É que săo

Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor

Ridículas.

A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que săo

Ridíículas

(Todas as palavras esdrúxulas,

Como os sentimentos esdrúxulos,

Săo naturalmente

Ridículas).

Álvaro de Campos (1935)

sábado, 30 de abril de 2011

Poema em linha recta

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,


Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,


Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,


Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;


Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?


Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?





quinta-feira, 28 de abril de 2011

Nevoeiro


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...


É a Hora!

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Aniversário de Almeida Garrett


João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu em 1799 no Porto e faleceu em Lisboa em 1854 .
É provavelmente o escritor português mais completo de todo o século XIX, porquanto nos deixou obras-primas na poesia, no teatro e na prosa, inovando a escrita e a composição em cada um destes géneros literários

DESTINO

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Floresce»;
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?

Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Almeida Garrett
Pós-texto: último poema de A.Garrett

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Os grandes filósofos clássicos

O pensamento dos grandes filósofos clássicos

O Século XXI pode compreender-se melhor através do pensamento dos grandes filósofos clássicos. Vejamos:
“Hoje em dia, a maior parte das pessoas, prefere a vida do consumismo e procura o prazer ou a riqueza ou a fama”. Quem escreveu isto? Foi Aristóteles há 2.500 anos.
Ou o que me diz a isto?
Os governantes que estão no poder porque juntaram uma fortuna tão considerável, não querem proibir por lei a extravagância dos jovens (pessoas) e impedi-los de malbaratarem o seu dinheiro e de se arruinarem. A sua intenção é fazerem empréstimos a essas pessoas imprudentes ou, comprando-lhes os seus bens, esperarem aumentar a sua própria riqueza ou influência… Aqueles que ganham muito dinheiro continuam a injectar o ferrão tóxico dos seus empréstimos, sempre que podem.

Foi Platão e, parece surpreendentemente familiar. Neste mundo há revoluções e a história pode colocar grandes distâncias a separar povos e lugares. Mas há bastantes coisas que permanecem constantes, sobretudo no reino das grandes verdades da vida e, podemos percebê-las bem.”

(Do livro: PLATÃO de Mark Vernon, cuja leitura aconselho)-O itálico é meu.