sexta-feira, 28 de maio de 2010

Liberdade sem condicionalismos

Não há verdadeira liberdade pessoal com condicionalismos económicos, nem com subserviências partidárias; nem com o estigma do medo ou com a luta pela sobrevivência num mundo hostil que amordaça a consciência de quase todos e de cada um de nós.
Por isso:

"Feliz é aqule que nasceu e foi ensinado
A não servir a vontade de outrém;
Cuja armadura é o seu honesto pensamento
E a simples verdade é o seu máximo saber!
Cujas paixões nunca podem dominá-lo.
Cuja alma está sempre apta para a morte.
Indiferente ao mundo, não preocupado
Com a fama popular ou intriga torpe.

Feliz é aquele que não inveja a sorte alheia;
Que não tem vícios; que nunca sente
Quão profundas feridas o louvor provoca;
Quem não sente o peso da lei, mas só as regras do bem:

Este homem está liberto de laços servis,
Do cuidado de se elevar e do medo de cair.
Senhor de si mesmo; não de propriedades;
É o que nada tem, mas que tem tudo."


(in psicologia do caracter)

sábado, 8 de maio de 2010

"Escuta, Zé Ninguém"

Chamam-te “Zé-ninguém!”, Homem Comum e, ao que dizem, começou a tua era, a “Era do Homem Comum”. Mas não és tu que o dizes, Zé-ninguém, são eles, os vice-presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filósofos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado…

Deixas que os homens no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos homens que detêm o poder, quando não conferes a importantes mal intencionados, mais poder ainda para te representarem. E só demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais.

Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, directo em vez de cauteloso, amando às claras e não como um ladrão na noite…
Dizes: quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu? E tens razão: quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? Deixa-me dizer-to.

Diferes dos grandes homens que verdadeiramente o são apenas num ponto: todo o grande homem foi outrora um Zé-ninguém que desenvolveu apenas uma outra qualidade: a de reconhecer as áreas em que havia limitações e estreiteza no seu modo de pensar e agir. Através de qualquer tarefa que o apaixonasse, aprendeu a sentir cada vez melhor aquilo em que a sua pequenez e mediocridade ameaçavam a sua felicidade.

O grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e de grandeza alheias...
(Wilhelm Reich)


NB.: O itálico é nosso

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"Pretérito"



Equação
O nosso amor foi uma equação
a duas incógnitas: Tu e Eu.
Eu amei-te, vivi na ilusão
e o teu amor por mim, esmaeceu.


E o cupido que nos atraiçoou,
ao brincar com os nossos corações,
a flecha do amor o alvo errou,
pondo termo às nosas ilusões...


Mas, o culpado do que aconteceu,
não foi o cupido, nem Tu nem Eu.
E porque esse amor pertence ao passado,

caiu no chão, ficou esmaecido,
pergunto a mim mesmo, entristecido,
se não foi disso, o cálculo, o culpado
!...
(02/09/65)